domingo, 28 de junho de 2009

história com 'e'

Então já não se usava mais a palavra 'estória' para certos tipos de história. Não lembro quantos anos tinha, um dia soube, tudo passava a ser 'história', de fadas que fosse, didática, fictícia, tudo se trataria de histórias com 'His'. Foi algo que me ocorreu, enquanto evito pensar pensando. Não é uma boa hora para pensar. Assim como não é uma boa hora para sentir-se sentindo. Porque simplesmente não é uma boa hora. Talvez, chegue à ligeira conclusão de que, nesse mundo inventado, não convém. Não convém ser real. Salto, corro duas quadras para não perder o ônibus. Alcanço, entro, sento. Mérito por não ficar pensando a mais, enquanto arrumava a mochila para a aula. Enquanto enviava o trabalho diário da faculdade. Enquanto preparava mais uma aula de português. Enquanto lia. Enquanto desenhava. Enquanto cozinhava. Enquanto não pensava, enquanto não. Sábio – ou lúcido, vivo, astuto, sagaz – é um príncipe sentado sobre um cavalo ágil, de dentes limpos, de patas fortes. Enquanto corria, só tive o tempo de passar pelas gentes, agarrar o motor quente e subir. Nem frio havia, nem pensamento algum. Andar é um perigo para encontrar-se, pensando. E se parece insólito ao fim do dia, melhor seria seguir correndo, dormindo que seja. Não convém tanta realidade.


Photobucket

domingo, 21 de junho de 2009

a mosca no olho

Quando sangra invísivel das mãos um sofrimento omisso Sempre sangra Nem sempre é visto Dito Feito Fato Se há silêncios Substância Sangue invisível Discretamente derramado Um fardo descolorido Escondido Resguardado Quando se sangra distraído A dor se vê pelos ruídos Dos olhos revelados


Photobucket

há um mar revolto em minhas costas



{fotos: Júlio Paiva ; edições: Raquel Queiroz}


domingo, 7 de junho de 2009

on air

Horas poucas, idéias tantas; se vai o dia, nada escuta. Grita: ainda não terminei! O dia vai, em qualquer caso, vai, alguém fica des-sintonizado, des-sincronizado, deixa para amanhã. Deixa para amanhã, toda a vida, ‘toda vida’ nunca cabe hoje, todavia tenta, mas deixa para depois. Hoje é café, pão, louça, cama. Hoje é passo, amanhã é corrida, comida agora. Comigo agora. Todo dia corro, morro, arranco ar negro esfumaçado do umbigo, perco as mais lindas histórias, perco as mais macias pétalas, pétalas, asas amareladas. Uma nova novela na cabeceira. Perco também meu romantismo lindo e ridículo precioso. Escuto essa canção, escuto minha voz, escuto o tempo frio que entra pela janela. Outro tempo, o de fora. Leva esse tempo de dentro, devora, fim da linha, fim do dia, desisto, desiste-se. Desiste o dia. Des-existe. Deixa para amanhã. A vida para amanhã. Agora, guerra. On air. "Air" para os bravos olhos adormecidos. De cansados, descalçados e aflitos.