quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

água vivíssima

Pois então, apenas superfície. Cores e formas, alguma sentença, alguma farsa, roupas, adornos, bronze do sol. Digo, admito, às vezes demais. Depois já está dito, gritado, expandido, expelido, externado e ainda repetido entre dentes e facebooks. Uma alma tão pouco serena necessita alguns estragos verbais. Mesa é assunto, trago é conversa. Coisa séria é só capricho. Depende do figurino. Principalmente da roda, dos olhos, dos ouvidos. Por onde conduz a dialética, caminhando, derivando e derivas, por onde and... Ando na praia feito água viva, arrastando o rosa envenenado, doida para queimar alguma pele inadvertida. Ando baixo sol de trópicos traiçoeiros, de mancha amarelada quebrando com as ondas. [Contaminação ou algas esse blá?] Pois então, andante, falante; apenas pele, bronze, cores e formas. Película da água viva, na iminência de estourar. Meio transparente, meio esteticamente atraente, meio ambiente natural. Meio de mentira, parece plástico, mas ao toque se convence; verdade, verdade e algo dolorosa, porque queima, pagar para saber. E queimada a pele está, mas de sol, loucas melaninas. Só do sol, cores e formas; trevas e fogueiras dia e noite. Prazer de praia e arrependimento de língua. De tudo se erra quando de tudo se diz. Mas a cicatriz é branda, sofrida é a espera de uma ferida latente. É viva, arde, vivíssima. Viva toda.

Photobucket

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Gavetas e calabouços

Ela olhou para todos os passados. Espalmava a mão nas pastilhas brancas do lavabo, para vibrar frio, tal quais as pedras, para nada e para tudo, aqueles passados não escolhidos. Porque o passado que vinga é o escolhido, resta apenas curiosidade pelos que não. Torceu as pernas; essa curiosidade e fome, problemas de saciar. É marginal esse rebusco, delírios de vertentes. E então nada mais, como uma morte desavisada. E então, ver. Ver, imaginar, reter a pá dos olhos, cinzas de encontros e desencontros perdidos no nada mais. Ninguém poderá entender e nada poderá ser dito. Porque são segredos, porque são proibidos, porque são delitos. Gavetas fechadas, labirintos desistidos. O sol arde sobre o cadáver, assim como o mar bate entre pernas abandonadas. Ela deixou ser vista, somente da carne para fora. E se arrisca porque sabe que a dúvida é estratagema. Só por olhos seria revelada. E portanto os larga, criminosa. Aprisiona-se, em conhecidos calabouços.


Photobucket