domingo, 29 de agosto de 2010

naval blue

É domingo e faz frio, a temperatura cái. Caem as cinzas pelo cinzeiro, aquele assunto da fumaça e das moléculas, expansão, teorias e enigmas. Alternativas para escolher um filme para intrigante e casual domingo: possibilidades de sites, de gêneros, de obras, de tramas, do que se vê em cada história, corpos, vozes, infelizes traduções. Análises combinatórias, UM, 2, três por quantas variáveis. Por quantas vidas, chances, caminhos; outra vez essa mesma reza, que cruza tantas vezes o pensamento asa de fim de semana desejoso de perder-se em celas desenhadas. As asas – asasas: me perco com as letras e os rearranjos – da borboleta supracitada e referida tantas vezes. Às vezes os idiomas se cruzam, ou se trespassam, batem asas para uma manera de dizer. E se diz de variáveis formas, o que se escolhe dizer. Ou quando. Ou nem. Quando uma palavra asa ventila ouvidos de outros hemisférios quem haverá de escutar? Compartilhadas em facebook? Música vitrine no msn, curioso imaginar o ambiente ao qual invade, perfuma, de sons, sínteses e silêncios. Ou em que estado animado se escuta, se interpreta, entende, recebe. Porque às vezes o que se canta não é o que a caixa de som reproduz e por sua vez, não é necessariamente o que o ouvido capta. Às vezes um canal está prejudicado, graves, agudos distorcidos. O conteúdo é outro. Telefone sem fio, revisito as lembranças: o projeto da lata com barbante dos escoteiros mirins [nós tinhamos a coleção mas não o tal relógio-brinde-por-completá-la. E bom que não, já que éramos 3 e eu a última da cadeia alimentar de coisas – e não de afetos, porque se diz que o último concentra mais esse amor repartido homogeneamente pela convenção que impede aos pais declarar uma predileção ou empatia. Está condenado a amar igual, embora acredite que não se ame nunca nada nem ninguém de maneira idêntica]. Tolices de domingo, bárbaro que então nos dediquemos a uma história alheia a reservar os proprios monstros para o travesseiro. Poi as segundas-feiras – dias de monstros cansados de fim de expediente, deles – são dias de precipício ao certo já estabelecido pelas sextas, pelas quintas, quartas, terças... mais difícil de mudar. As moléculas em contração buscam o ponto exato da encruzilhada. Porque me inclino a concordar que há sempre uma encruzilhada arrependida por supostas decisões equivocadas, razão da seriedade delas, das asas, dos microacontecimentos. Esse blá que por acaso havia de escutar outra vez, vez que fosse num novo filme online pelo site que ao acaso se guardou em marcadores tais por disponibilizar filmes com legendas, ainda que mal traduzidas. A história que se quer ver é vista, os olhos desenham a esse rigor.

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[foto: júlio paiva]

As palavras em português aqui escolhidas nascem de teclados configurados para espanhol: misturadas as moléculas, os contornos desatados. Novos arranjos na matriz; é sentido tempo irreversível [fagocita, meu amor, fagocita].
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Quando morrer serei um compêndio de janelas, abertas aparentemente de modo aleatório – vão -, a ventos oriundos de um misterioroso sopro. [1,2,3, testando ecos, emissão, recepção. Alguém haverá de atender à coincidente loucura]. Ou se quer dar por recebido, acaso é que se leia dizeres tolos de domingo. Cheiro de colônia: efemeríssimo suspiro de uma débil existência.


domingo, 22 de agosto de 2010

o olho que desunera a não-palavra cala

Rasteiras; para dias ingênuos, os sopros das trevas arrastam as pernas distraídas, os corpos desavisados, as almas cochiladas. Cara-contra-chão. A multidão é riso, descansa, pois se premia tempo. A multidão compete, passa à frente, de nada adianta a fricção do carrinho detido pelas mãos da criancinha. A criancinha detém o brinquedo a gosto, no chão desliza, depois o guarda. O sopro das trevas malditas arrasta por caminhos vãos; caminhos de terra fugazes, basta a mão, pequena que seja. Basta um sopro, um respiro, de pulmões pouco notáveis. Desorganiza, desanda, desunera.


Se admitem tantos ditos sobre o tempo; dos outros, são teorias. Das vidas outras, textos, conselhos, análises. Por ver, murcham-se plantas, um olho obeso, guloso, ou tantos. Olhos atentos, vampiros sim que existem. As invejas me roubaram filhos, as inocências são enfim ciladas. Um dia sentada ao sol, queimadas as cores, as dores, morri. Não sentia o medo delicioso, esse arriscado, de “assim mesmo”, de “mesmo assim”. De tudo temo, de tudo “assim mesmo” enfrento, por tanto desejo de não saber-me morta. Não. Não será por tão simples razão e pouco importam as superestimadas interpretações preguiçosas. Para ler, saber: as palavras pouco dizem. Atenção a de se dar às não-palavras; o que se diz é menos do que aquilo que não se há de dizer nunca. Aí reside o mais lindo mistério, o refrão vivente, a obscuridade, a caverna sombria dos nefastos e maravilhosos sentimentos embriões. Selvagens e descorteses, são sentimentos de quarto, processos de banheiro, íntimos.


Meus olhos caverna fundos de poços tão profundos delatam. Develam. Ponho as mãos sobre tais crateras. Enquanto pensam no meu choro – ou inclusive se é choro ou sono ou dor ou drama, fingimentos – protejo minhas janelas das tempestades. Porque ouvi dizer que virá grave tormenta desde mares traiçoeiros. Tudo é no mínimo confuso. Cheiro de chuva, sou do nordeste. Meus avós, sobreviventes.