quinta-feira, 30 de setembro de 2010

sabor sangue mentolado

[para ser lido na profundidade do parto, sílaba a sílaba a sílaba a letras cadenciadas. e pontos e ritmos e nadaS.
e ao som de ce matin la - air; inundar-se
]


Viva cada palavrinha elaborada e nascida [com pedaços de carne e lambuzada de sangue]. De mim saem vísceras. Cada vez que me sento (frente ao office).

Para estar viva, minha guerra é entre o vazio e o cheio acumulado.
O lindo musicar da mais profunda arquitetura.
Vertida a palabra, é trégua. Da náusea que precede.


E que luxo arrancar-se.

Deixa um gosto extra-menta na boca; sabor sangue mentolado.


{música qu [músic (música que escolhi para assombrar aos que me sobreviverão - música-testamento) quando não seja mais] quando não seja mais palavra}
quando morrer, essa música fará um funeral estupendo.
e então descansarei lisonjeada.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

orações desesperadas a caio


"(...)Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida."


Caio Fernando Abreu

Carta ao Zézim

Porto, 22 de dezembro de 1979.
[en contos diversos]

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

solzinho ovo poché

Sim, só palavras. Funis, palabras. Um vocabulário restrito para uma avalanche de abstratos! Tantos abstratos correm, derramam, queimam...arde não dar vida, viva o pensamento que verteu palavra. Angústia que antecede o dito – respiro, recolho, quase páro – e explodo os dedos, locutores preferidos. E dizer é pedra, no olho que olha a 180º, rasante, com piscar escasso, alertíssimo enquanto aberto, seco, duro, ovo. Um ovo por dia: não há sentido (em) qualquer palavra. Por isso a dor, o silêncio de escrita quase obriga o silêncio verbal – EM MIM – por dios! Que difícil permitir um EU num texto, num canto, no mEU canto protegido, defendido, recuado. Ter que dizer em trilhos, bulas, castelos e viagras. Conter paixões arrebatadas; pelo vermelho vivo do querer dizer escarlate, calar, medir, REpresa. O silêncio incomoda, a multidão comenta; mas há uma conversa transparente a olhos que buscam não mais que pedras. Converso com o sol: sussurra amarelinho, esse sol tão temperado, meio ovo poché. Ovo, como como seja - Menos cru – mole, cozido, poché, mexido, omelete, frito. Frito! Como sol dos trópicos, mEU sol ardente, fogo, oleoso, incêndio, alegre. Palavras são só palavras, ainda que quando ausentes. Mas – pensando exaustivamente – como suportar guardá-las? Delas, coleções. Aqui as tenho, descontroladas. Portanto se derramam às vezes, tantas, vulcônicas e exageradas. Um lance de extremos; gotas ou tempestade.


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[foto: júlio paiva]