segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

oito de copas

Intemperança: pelas paisagens, vale de destroços. Dos olhos arrebatados, do estômago sacudido; os olhos veem cinzas, pese o insistente colorido do corpo satisfeito. Do corpo lembrado do amor. Agora um sol delicado, à pele nenhum ardido. Porque as calçadas movem-se segunda-feira, a alma epilética idem. Um velho atira uma ponta de cigarro contra minhas canelas. Olho, nem mesmo desvio. Se queimo, nem mesmo percebo. Se percebo, nem mesmo me importa. Por dentro o solo convulso, não convencido: um mar de páreas, um mar de vazios, um cerco tolo, um gueto lama. Ser elegante e suportar, em nome da maturidade, sussurrar esta superioridade com ditos de bem vividos. Para? Não será nunca compreendido. E será arrogante. E será inútil. Ainda que seja importante tomar os pelos selvagens dos sentimentos aguerridos. Expressá-los. Contra os cânceres. Melhor será apenas uma perspectiva amarga. E nenhum mar à vista, para purgar de mim a mim mesma. Esse mim mesma corrompido. Exausto. Um ponto de vista, eis que é, um lugar posicionado (ainda que mal!), vistas guardadas no bolso, palavras, pessoas embrulhadas, guardados, guardados enrolados em panos, pétalas em lenços, ruídos, frases, cinzeiros, copos, guardados tempos, outros, guardados. Portas batidas ao ouvido, depois murmurinhos, acontece. Acontecem sábados, domingos. Segundas atropelam, arrancam, desentranham, engasgam, apoderam, sujeitam. Segundas recordam os malfeitos, os defeitos, os incidentes não esquecidos. E não há paz sem olvido e um olvido é um tipo de morte. Haverá que matar mais um trânsito, uma freqüência pirata, silenciar outra vez o juízo. O juízo vez e outra deseja guerra e trono, império, sangue, vísceras. À custa da temperança, insinuam-se as loucuras. E o juiz-juízo vê assim. E quer ver assim, não há dito que o amanse. Um leão no peito, que reina, que urra, que balança a juba e é adorado. Mesmo quando escolhe a coadjuvância, por generosidade, respeito ou qualquer sentimento que o alastra a culpa católica ou o moralismo. Ou uma justa noção ética. Ou um inacreditável senso de honra. E justiça. Não adiantará. Porque há ouro em seus contornos, ainda que ausente, é sua figura revolvida, inquirida e reivindicada. E sempre haverá répteis, insetos e dragões indesejados.

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Quando haverá de amornar este espírito, por uma segunda-feira mais branda, me pergunto. Por uma segunda-feira-rotina, sem gosto de lâmina, sem rebuliços. Algo se move dentro de mim, cronicamente, como estas segundas. Fardo das almas irrequietas. Ou da ira de um mar bravio esverdeado, recusado por largas ausências.

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Sábado de bicicleta por bulevares e sob coloridas árvores e entre ventos carinhosos úmidos. Paramos: havia uma carta no chão, 8 de copas. Oito copas de intemperanças. Depois, outro sábado, outras espécies. Outras dores, saudades, promessas que jamais se cumprirão. Tristezas que trespassam alegrias já não mais tão alegres. E que encontram força em outras tristezas, oxalá menos definitivas.