Fechar os
olhos, perscrutar silêncios. Abrir janelas, plainar vidências pelo horizonte.
Dobrar lentamente as roupas recém-lavadas. Perfumadas, portanto. Fazer um
passeio despretensioso. Escutar um violinista escocês tocar Perfidia na
peatonal. Um pouco de mágica colorida para dias cinzentos. E por isso agradecer. Arejar a cabeça. Abrir paredes e aplicar cobogós (( ou muxarabis fixos )) para arejar a alma,
numa tentativa de fazer perene as permeabilidades. Iluminar as trevas. <<“Son árabes, ustedes?” –perguntou um
grego aos cearenses, enquanto bailavam as águas no Paseo Buen Pastor>>.
Os encontros são janelas imprevisíveis, com alto potencial para portas. E
janelas são -entre tudo- portais. Tomar banho pela tarde, quando o sol pela
janelinha de vidro transmuta a água em diamantes líquidos, pela luz espetacular
junto a que se fazem coincidência. Deixar esse brilho derramar-se pela pele.
Dançar enquanto o ovo cozinha. Delirar nesses 5 minutos de transcendência.
Desenhar. Encher a banheira, reunir músicas preferidas sem qualquer relação de estilo
e ali escutá-las beijando a boca no torrontés.
Escrever. Pintar as unhas. Costurar. \preparar pó de pirlimpimpim/. Ler acasos
depois do jantar, em forma de romances, bulas ou mensagens esotéricas. E pedir
desculpas aos besouros pelo impulso de espantá-los. Observá-los quando térreos,
caminhando sobre as páginas do livro aberto, respirando folhas já não tão
sólidas para as passeadas do companheiro alado. Imaginar onde estão os seus
olhos. Imaginar onde estão quem amamos. Que fazem, que pensam, nesse instante
em que pensamos neles. Ver voar o besouro e pensar qual será seu objetivo e pouso.
Borrifar água com canela nas cortinas para que o sol pela manhã dissipe pela
casa um sublime perfume, mais intenso quanto maior o calor exale. Uma forma
doce de perceber altas temperaturas para organismos tropicais super tolerantes
às mesmas. Abrir as janelas, ventilar os pensamentos; sentar na pia para
escutar atentamente uma canção dramática e, nesse transe, morder ameixas maduras descuidadamente,
deixando pingar o vermelho pelo queixo, mão, antebraço, cotovelo, joelho, canela, pé e, finalmente, pelo piso; mais
bananas-potássio-e-laranjas-magnésio-contra-as-câimbras. Mais delicadezas para
acarinhar os juízos. Abrir fendas, chafurdar os detrás. Parar os alheios mundos,
// pause sem medir, contudo, por alguns segundos fly. Estampar de flores o coração com pequenos buquês para si, auto-massagem, auto-beijo, auto-festa. Levantar cortinas, com o primeiro café do dia, com um bom dia ao mini-jardim doméstico e à Laila e Majnum, com fé de que alguma vez
se encontrarão -e sempre poderá ser este um bom dia para tanto-, graças aos cantos viajados pelos ventos do deserto. Abrir as
janelas todos os dias, apesar das tempestades.
<< catarses >> ;
>> janelas << ; (( cobogós ))
2 comentários:
Teu mundo de palavras idílicas adentrou o meu, escatológico, e trouxe o cheiro de canela da longínqua Cordoba
Então feliz pela mistura de mundos.
Cariños.
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