domingo, 22 de agosto de 2010

o olho que desunera a não-palavra cala

Rasteiras; para dias ingênuos, os sopros das trevas arrastam as pernas distraídas, os corpos desavisados, as almas cochiladas. Cara-contra-chão. A multidão é riso, descansa, pois se premia tempo. A multidão compete, passa à frente, de nada adianta a fricção do carrinho detido pelas mãos da criancinha. A criancinha detém o brinquedo a gosto, no chão desliza, depois o guarda. O sopro das trevas malditas arrasta por caminhos vãos; caminhos de terra fugazes, basta a mão, pequena que seja. Basta um sopro, um respiro, de pulmões pouco notáveis. Desorganiza, desanda, desunera.


Se admitem tantos ditos sobre o tempo; dos outros, são teorias. Das vidas outras, textos, conselhos, análises. Por ver, murcham-se plantas, um olho obeso, guloso, ou tantos. Olhos atentos, vampiros sim que existem. As invejas me roubaram filhos, as inocências são enfim ciladas. Um dia sentada ao sol, queimadas as cores, as dores, morri. Não sentia o medo delicioso, esse arriscado, de “assim mesmo”, de “mesmo assim”. De tudo temo, de tudo “assim mesmo” enfrento, por tanto desejo de não saber-me morta. Não. Não será por tão simples razão e pouco importam as superestimadas interpretações preguiçosas. Para ler, saber: as palavras pouco dizem. Atenção a de se dar às não-palavras; o que se diz é menos do que aquilo que não se há de dizer nunca. Aí reside o mais lindo mistério, o refrão vivente, a obscuridade, a caverna sombria dos nefastos e maravilhosos sentimentos embriões. Selvagens e descorteses, são sentimentos de quarto, processos de banheiro, íntimos.


Meus olhos caverna fundos de poços tão profundos delatam. Develam. Ponho as mãos sobre tais crateras. Enquanto pensam no meu choro – ou inclusive se é choro ou sono ou dor ou drama, fingimentos – protejo minhas janelas das tempestades. Porque ouvi dizer que virá grave tormenta desde mares traiçoeiros. Tudo é no mínimo confuso. Cheiro de chuva, sou do nordeste. Meus avós, sobreviventes.


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